segunda-feira, 8 de maio de 2017

E ele se perdeu. E ele não conseguia mais se encontrar. Embora não estivesse sozinho, mesmo as pessoas mais queridas não podiam ajudar. Elas descuidadamente faziam apenas com que se sentisse egoísta por se sentir assim. Não, não faziam por mal, não eram pessoas ruins. Mas eram pessoas, não divindades que podiam curá-lo de todos os males só de olhá-lo ou tocá-lo. Pessoas que também precisavam cuidar da própria vida. Pessoas sem obrigação de entendê-lo, especialmente quando ele já estava cansado demais para tentar explicar. Na verdade ele não queria mais explicar. A verdade é que quase não sentia mais vida dentro de si. Os eventuais momentos em que os olhos brilhavam eram cada vez mais eventuais. Era como se uma esperança ainda tentasse se desgarrar, louca atrás de motivos para os sorrisos não serem forçados e os feitos o fizessem se sentir orgulhoso, assim como outrora. Seu cérebro não correspondia. Estava apático. As palavras agressivas de todos os lados já haviam se calado. Mas no seu cérebro elas se repetiam, se repetiam e se repetiam. Contava alguma piada para si mesmo para se forçar a rir "não é real, não é real. É outra moeda" "Tudo passa, até uva passa." Talvez ainda trouxesse algum conforto. Mas tudo era muito passageiro, porque não conseguia mais ser o motorista, que guiava a própria vida. Já o cobrador também estava ali. Na metáfora do ônibus, ele se chama vida. Porque a vida cobra. A vida sempre cobra. E vai desgraçar a cabeça e vai passar por cima do tempo que ele e todos que sofrem a dor constante da insuficiência, gostariam de ter a mais. "É falta de Deus". Eles diziam. 'Você não é o único que tem problemas". "Você precisa de muita atenção". Talvez fosse tudo verdade. Mas não é como se ele já não tivesse tentado de tudo. Não é como se ele já não soubesse que começava a irritar e cansar todos a sua volta com a sua melancolia e sua imensa nuvem negra que o acompanhava em todos os lugares. Chovia nos outros também. Mas ele daria o seu próprio guarda-chuva e se molharia sozinho, porque ele era assim. Mesmo que ninguém enxergasse. Uns diriam que ele sofreria mais por se importar tanto. Uns diriam que seu autruísmo era falso e até nisso falhava. Mas tudo bem, ele dizia a si mesmo. Ele se sentia uma pessoa horrível. Mas "Vai passar. Vai passar..."ele repetia. E os anos, realmente passavam. Passavam. E passavam...





A iluminação está dentro de si. Mas as vezes o caminho pra chegar até lá é um labirinto de um jogo de terror. Espero que todos que sigam por esse caminho consigam encontrar suas forças, antes que seja tarde demais.
A gente se vê um dia. Ou talvez não.

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